Pesquisa feita na Grã-Bretanha mostra que companhias familiares são 19% menos produtivas do que as demais

British Foreign Secretary Philip Hammond (L) walks during a meeting with Finnish Foreign Minister Erkki Tuomioja (R) in Helsinki, January 8, 2015. REUTERS/Markku Ulander/Lehtikuva (FINLAND - Tags: POLITICS) ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE HAS BEEN SUPPLIED BY A THIRD PARTY. IT IS DISTRIBUTED, EXACTLY AS RECEIVED BY REUTERS, AS A SERVICE TO CLIENTS. NO THIRD PARTY SALES. NOT FOR USE BY REUTERS THIRD PARTY DISTRIBUTORS. FINLAND OUT. NO COMMERCIAL OR EDITORIAL SALES IN FINLAND

Hammond quer melhorar a produtividade na Grã-Bretanha  Foto: Reuters

A Hall & Woodhouse produz cerveja em meio ao esplendor georgiano de Blandford St. Mary, em Dorset, desde 1777. O fundador da empresa, Charles Hall, fez sua fortuna durante as guerras napoleônicas vendendo cerveja para as tropas acampadas nas proximidades de Weymouth, prontas para repelir os franceses. Hoje, a sétima geração dirige o negócio e a família ainda possui quase todas as ações. É um exemplo venerável da estrutura dominante de negócios na Grã-Bretanha moderna, onde mais de dois terços das empresas são familiares.

A Hall & Woodhouse é o exemplo do que o ministro das Finanças, Philip Hammond, gostaria que as outras empresas fossem. Negocia com base em sua herança, mas permanece inovadora. Com um volume anual de vendas de £ 100 milhões (R$ 440 milhões), acabou de gastar £ 20 milhões (R$ 88 milhões) em uma nova fábrica para produzir mais da cerveja Badger. “Nós fazemos experiências”, diz o diretor executivo, Anthony Woodhouse. No verão passado, a empresa adicionou uma série de sorvetes para cães, incluindo os sabores carrot crunch (cenoura) e old sock (meia velha), às sobremesas à venda em seus pubs e acabou vendendo mais sorvete para cães que para pessoas.

A Grã-Bretanha é quase tão sentimental em relação às famílias quanto aos animais de estimação, o que significa que as empresas familiares às vezes escapam do exame minucioso a que outros setores da economia estão sujeitos. Mas há evidências sugerindo que elas tendem a ter um pior desempenho, quando comparadas às companhias com propriedade e gerenciamento mais diversificados.

Como o governo busca meios de melhorar o débil crescimento da produtividade britânica, ele pode continuar analisando as empresas familiares. Não é estranho que a Grã-Bretanha tenha tal preponderância dessas empresas (alguns países da Europa e da América Latina têm uma parcela ainda maior), mas chama à atenção o fraco desempenho.

Uma pesquisa da indústria de manufatura, feita pelo Escritório de Estatísticas Nacionais, mostrou que as empresas de propriedade e administradas por famílias são cerca de 19% menos produtivas do que as outras. As empresas familiares com gerenciamento não familiar saem-se melhor, mas ficam atrás das outras. Considerando que 18% dos pequenos e médios empresários vendem ao exterior, só um décimo das pequenas e médias empresas familiares exportam.

Um dos motivos dessa menor produtividade é que as empresas familiares valorizam a estabilidade e a possibilidade de passar o negócio para a próxima geração, em detrimento da inovação.

Mike Wright, professor de empreendedorismo no Imperial College de Londres, diz que os orçamentos de pesquisa e desenvolvimento em empresas familiares são menores do que nas outras e que elas são mais avessas ao risco. Mais de três quartos do investimento privado em P&D na Grã-Bretanha é feito por apenas 400 empresas. Os negócios familiares geralmente se dedicam à melhoria de produtos existentes. Uma pesquisa descobriu que 86% deles nunca pediram registro de patente.

A gestão deficitária é característica das empresas familiares. Na Grã-Bretanha, apenas 37% dos gerentes delas têm diplomas, enquanto a porcentagem chega a 48% quando a participação é diversificada. Na Alemanha, esses porcentuais são de 49% e 70%, respectivamente.

Tome-se como exemplo a Nisbets, empresa de equipamentos de serviços de bufê com sede em Bristol, que vende para escolas, hotéis e restaurantes. Ela tem um volume de negócios anual de £ 400 milhões, emprega cerca de 2.000 pessoas e tem escritórios em outros países da Europa e na Austrália. Em retrospectiva, porém, Andrew Nisbet, o fundador, admite que a empresa foi em seu início “lenta e nem um pouco bem-sucedida” ao se expandir no exterior. “Erros de gerenciamento nos afetaram.” Nisbet abriu a companhia logo ao sair da escola, a partir de uma das participações comerciais de seu pai. “No começo, não estávamos à altura do desafio”, admite.

Nos outros países da Europa, a gestão é “mais estruturada e profissional”, afirma o empresário. O contraste pode, em parte, explicar o sucesso das pequenas e médias empresas na Alemanha (as Mittelstand). Dois terços da potência econômica da Alemanha vêm das propriedades familiares, mas suas empresas são mais bem administradas e mais ambiciosas do que suas homólogas britânicas. As Mittelstand representam 23% das exportações da União Europeia para outros países, um volume muito maior que os 10% das pequenas e médias britânicas.

Ajustes às regras de financiamento poderiam ajudar as empresas familiares britânicas a terem melhor desempenho. Muitas financiam suas atividades exclusivamente através de fluxo de caixa, raramente assumindo dívidas. Isso ajuda o negócio a sobreviver durante períodos difíceis, mas limita a capacidade de expansão durante épocas de grande crescimento. Muitas vezes, o empresário reluta em assumir investimentos externos, porque isso diluirá a propriedade da família. Os registros na Bolsa de Valores de Londres permitem apenas uma classe de ações, o que significa que as famílias não podem deter papéis com voto especial, por exemplo, como é permitido em outras bolsas. Algumas famílias que emitiram com sucesso ações de suas empresas argumentam que é melhor ter uma fatia menor de uma torta maior. A maioria delas, no entanto, prefere manter a empresa em casa.

Fonte:  The Economist, O Estado de S.Paulo – 10 Dezembro 2017 | 03h00

Publicação Grupo AM3: Mateus Matos – 12/12/2017

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